sexta-feira, 23 de abril de 2010

A ilha (na ilha)

Uma ilha vazia

Restam nela, perdidos, traços incomuns
Algo espesso, como uma barba espessa
Algo claro, como pele clara
Algo fechado, como olhos fechados

Na ilha há a tristeza de quem esteve e não mais está
Na ilha resiste às imagens o tempo
Na ilha resistem as lembranças de que foram humanos
(Fomos humanos talvez)
Na ilha resistem cheiros e lembranças
Na ilha resistem os irmãos e as vozes a ecoar do primeiro grito
Grito absurdo! Que dói! Dói!

Na ilha resistem fragmentos de histórias-sem-fim sem fim em si mesmas

Na ilha contam-se histórias absurdas de estradas e carros e gentes
Na ilha contam-se histórias absurdas de trens e vagões no calor
Na ilha contam-se até histórias de amor
Na ilha nada mais há
Na ilha resta a ilha
Resta o nada na ilha
Resta o eco na ilha
Restam os traços na ilha
Resta o endereço na ilha da ilha

Da ilha nada mais resta
Na ilha há apenas
A ilha