terça-feira, 8 de dezembro de 2009

O Tempo

O tempo são vias respiratórias
Paradas em sua elasticidade
O que muda não é o tempo
O que muda é o ar

Tudo novo, novos ares
Novos tempos,
Acho mesmo que dias melhores virão
Se chove, hoje chove,
Se faz calor, hoje não faz, mas amanhã teremos sol

Amanhã teremos sol.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Às vezes, mãe, às vezes, pai...às vezes entre... entre

Algo existe lá fora, neste momento. Penso em ser a garoa que cai fina, por onde moro. Penso em ter demarcadas as minhas aflições em minha face, por isso choro. O socorro de onde vem? Agora, já não mais pergunto. Sinto, sei, existo e vivo tudo isso.
Entre, professor, entre.
O caminho tão sofrido. Pai, mãe, sofri como um cão. Agora chego a pensar em outras coisas... o colorido das vozes dos rapazes que jogam futebol e que têm o Sol por cima deles e o chão onde pisar.
Penso em meus pés. Às vezes, vezes às vezes, pensar em não pensar e sentir-me pensando. “- O que faço aqui, meu Deus?!?” Sorriso bom, não estou mais lá nem cá.
Chego ao ponto de que partia, Carlos, a vida liberta-me e vivo livre. E as notícias, pai, mãe, são boas.
A tempestade passou. O correio já chega por aqui, a internet também, foi ontem. Ontem mesmo eu vi meus olhos na velha fotografia da gaveta da mãe, pai. Como eram distantes os olhos meus, Pai. Agora, perco a hora, sempre eles se encontram nos relógios, nos compromissos...
Eram próximos, Mãe, eram próximos, Pai.
Algo existe ao luar, neste momento, penso serem casais que se amam em fervor à luz e à sombra da Lua. O cheiro do orvalho os enebria... sei, sinto, tinto sangue os vive em vida e ainda os solitários esquadrinhando a solidão das calçadas vazias à noite, andam e vejam só, estão sós...
Quando acordei que cresci, restaram saudades, aprendizados e esperança.
Entre, pai, entre, mãe... Entre.
A vida se me mostra, sulcos em minha face. O mar se abre adiante sobre o mundo.
Sinto, sei, existo e vivo.
Entre.

Pedaços de mim...

Pedaços de mim que caem, boiam pelo mar
Indo adiante como quem voltará um dia, soltam-se infinitamente
Uns dos outros e tomam o horizonte...

Agora, voam... simples como a indefinição do lá...
Voo como o mar

Se me ouves agora, sabes, mais ainda que antigamente,
Nada mais resta sem sentido
Cada pedaço e cada gesto afim

Tudo boiando pelo e voando como
Tudo voando pelo e boiando como

Eu mesmo

Pedaços de mim voltam, simples como o mar

Tudo, um dia, chega ao mar.

Primavera de 2009

Depois de longa estiagem, um novo texto.

Antes de tudo, porém, eu gostaria de tornar pública minha admiração e incompreensão das grandezas que envolvem Cactos e Flores e que envolvem Flores e Cactos.

Expressa essa incompreensão, necessito de expressar minha contemplação absoluta do fato em si e de como ele diz, somente só, alheio aos fenomenólogos... somente... sem Kafka, Paulo Coelho ou Jorge Amado...

Aqui estou. Aqui vivo. Aqui sinto. Aqui vejo um Cacto ter uma Flor e vez ou outra uma Flor ter um Cacto.

Dois minutos bastam.

Quem tem quem?

Abstraio a questão. Aliás, esqueço-me da questão. Aliás,

Têm-se e são assim, quase Caeiros sem fim, sem morte, sem dor, sem tuberculose.

Cactos não têm frio (e se o têm não demonstram) e Flores vivem assim, como quem voltará um dia. Para sempre.

Cactos e Flores, Flores e Cactos são mais do que assim...

Palavras e plantas e raízes e palavras...

Cactos e Flores, Flores e Cactos são

São para sempre.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Despedida

A Flor ou o Cacto, eles me perguntam. Ora, é possível dizer de nós, seres humanos, complexos e não-lineares, cactos ou flores? A resistência e rusticidade de um não anulam a fragilidade e delicadeza do outro. Há momentos em que acordamos flor e dormimos cacto, como o contrário também é verdadeiro.

A Flor e o Cacto, portanto, não são dois, mas um. Partes complementares, dois lados de uma mesma moeda. Ou deveriam ser. É por isso que venho me despedir desse blog. Falta-nos a devida unicidade, a conjunção que a natureza soube fazer tão bem. Tenho certeza, porém, de que o Geraldo continuará escrevendo com o lirismo e a dureza inerentes a todo ser humano, mas que, como poucos, sabe expressar tão bem.

Aproveito para deixar o link de meu novo blog: http://outraliteratura.blogspot.com

Grande beijo aos amigos,

Nadya

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Escrevo

Escrevo como quem cospe sangue pisado

Vermelho, ainda,
de vida

Amargo, porém,
cor de barro.

Uma aprendizagem

(À Clarice Lispector)

Começastes
Vírgula imbecil
Gritava eu desesperadamente em busca da capitular.

Tiraste-me o início dos olhos, capital e modelar.

Trevava em sangue minha crise em veias alheias a meu coração.

Não sinto
Nada vejo como antes

Terminastes, bandida de certezas inúteis,
Com dois pontos
Verdadeiro e único olhar:

terça-feira, 23 de junho de 2009

Choro

Nesta manhã ouvi um choro

num trem lotado de gente em São Paulo,

ó, Grande São Paulo,

a que bem me queiras levar... não importa...

ouvi um choro nesta manhã

Esquinas tão áspera e pesada

quanto minha angústia em me ausentar

Angústia até, São Paulo, que mesmo me parece já não há

Caminho-te, São Paulo, que me carregas e que carrego por dentro

em que passo sentindo o cheiro de urina das esquinas de teu centro velho...

velho, seco, áspero... vasto – ainda - coração imbecil envelhecendo em tua própria rigidez

na lascívia falida das putas esquecidas a chamar seus tantos Ulisses pra dentro de um bar

Não te queixes na Avenida São João,

nem nas reminiscências da Maria Antônia,

São Paulo, Grande São Paulo: o furor juvenil,

o furor juvenil, ó imensa Metropolisolidão,

- afogo-me, agora em um soluço-

afogado pelas luzes dos cinemas stadiums, neutraliza-se...

não sei...

acho que já não há

Que seja, aterradora comoção humana!...

Ouvi um choro, São Paulo, tão mais romântico...

Ouvi a flauta doce dos discos do trem a polir em estribilhos o chorinho da manhã que não pedia pra chorar

Mas, choro, São Paulo... um choro, mas foram sim...

São Paulo, foram os bandolins...

Os bandolins que me tocaram o choro no ouvido quase atento

eram os cílios de uma moça

o compasso do balanço do trem,

dedos de cansaço a lhes vibrar e acalmar...

Choro, São Paulo, e embora não me chores

num minuto de silêncio inexistente,

travo em tuas pausas

atormento-me com tuas melodias

grito, se não choro...

que ouvi, nesta manhã, um choro soar.