terça-feira, 23 de junho de 2009

Choro

Nesta manhã ouvi um choro

num trem lotado de gente em São Paulo,

ó, Grande São Paulo,

a que bem me queiras levar... não importa...

ouvi um choro nesta manhã

Esquinas tão áspera e pesada

quanto minha angústia em me ausentar

Angústia até, São Paulo, que mesmo me parece já não há

Caminho-te, São Paulo, que me carregas e que carrego por dentro

em que passo sentindo o cheiro de urina das esquinas de teu centro velho...

velho, seco, áspero... vasto – ainda - coração imbecil envelhecendo em tua própria rigidez

na lascívia falida das putas esquecidas a chamar seus tantos Ulisses pra dentro de um bar

Não te queixes na Avenida São João,

nem nas reminiscências da Maria Antônia,

São Paulo, Grande São Paulo: o furor juvenil,

o furor juvenil, ó imensa Metropolisolidão,

- afogo-me, agora em um soluço-

afogado pelas luzes dos cinemas stadiums, neutraliza-se...

não sei...

acho que já não há

Que seja, aterradora comoção humana!...

Ouvi um choro, São Paulo, tão mais romântico...

Ouvi a flauta doce dos discos do trem a polir em estribilhos o chorinho da manhã que não pedia pra chorar

Mas, choro, São Paulo... um choro, mas foram sim...

São Paulo, foram os bandolins...

Os bandolins que me tocaram o choro no ouvido quase atento

eram os cílios de uma moça

o compasso do balanço do trem,

dedos de cansaço a lhes vibrar e acalmar...

Choro, São Paulo, e embora não me chores

num minuto de silêncio inexistente,

travo em tuas pausas

atormento-me com tuas melodias

grito, se não choro...

que ouvi, nesta manhã, um choro soar.

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